Duas médicas, de 33 e 34 anos, que atuam como neocardiologistas na Santa Casa de Campo Grande e em uma clínica particular, se dizem vítimas de injúria, calúnia e difamação, por parte da mãe de um bebê de três meses, morto em 9 de maio. Elas acionaram a Justiça e ainda pedem quase R$ 20 mil de indenização.
Conforme o processo, Gabrielle de Souza Montalvão registrou boletim de ocorrência logo após o filho, Caleb Montalvão Milano, morrer por problemas cardíacos. Na visão da mãe, houve omissão e descaso das profissionais, que teriam causado a morte dele.
Além de levar o caso à polícia, imprensa e redes sociais, Montalvão acessou a página de avaliações da clínica particular no Google, onde as duas também atuam e desabafou.
”Omissa e incompetente, salvem os seus filhos… não acompanhe com essa ”dra”eu não tive essa oportunidade com o meu anjinho”, escreveu Gabrielle. Neste caso, todas as vezes que alguém pesquisar o nome da clínica, verá o ”recado” deixado pela mãe do Caleb.
O desabafo se deu, conforme apurado, no Dia das Mães e quatro dias após Gabrielle perder o Caleb.
As advogadas das duas médicas destacaram que as profissionais ficaram abaladas ao descobrirem a publicação. Na ação, os defensores observam que a ”atribuição de fatos ofensivos à reputação das querelantes [médicas], no claro intuito de prejudicar a imagem e boa reputação delas, bem como de levá-las ao descrédito perante a sociedade, demonstra a conduta delituosa”, escreveram os advogados.
Além da acusação de injúria, calúnia e difamação, as médicas buscam indenização por danos morais de R$ 19,8 mil.
Entenda o caso
A mãe descobriu, ainda na gestação, que Caleb tinha problemas cardíacos. Ele tinha indicação de cirurgia quando completasse seis meses ou antes, conforme situação do quadro clínico.
O drama de Gabrielle começou quando o pequeno passou mal e foi levado à Santa Casa com baixa saturação e gemência, dia 7 de maio deste ano.
A mãe conta que pediu por atendimento e medicação para o filho, que só foi aplicada quatro horas depois, às 13h e após muita insistência. Na ocasião o pequeno estava roxo. Ao ser finalmente atendido, diz o registro na polícia, Caleb foi para a Área Vermelha. A genitora tentou acompanhar, mas foi proibida e aguardou em uma sala.
Mais tarde, segue a denúncia, uma enfermeira informou que o quadro respiratório do bebê não foi estabilizado e uma cardiologista pediátrica foi chamada a avaliar o caso. No fim do dia, o pequeno foi levado para a UTI, sem avaliação da médica especialista. A mãe tentava acionar o serviço de atendimento ao cidadão do hospital, mas não conseguia e o problema se agravou.
A denúncia diz ainda que durante o dia 8 de maio, Caleb passou quase todo o dia sem visita médica, sendo que a pediatra chegou somente no fim da tarde. Na segunda-feira (9), Caleb passou por ecocardiograma que constatou insuficiência cardiorrespiratória descompensação cardíaca e a possibilidade de obstrução nas veias pulmonares.
Diante do cenário, segue o registro, a criança iria passar por cirurgia, mas dependia de um exame de angiotomografia, mas esse procedimento iria ser feito somente na terça-feira (10).
”… e a médica não pediu o exame”, lamentou a advogada de Gabrielle. Ainda na manhã de terça, o menino passou mal e foi intubado. A família seguiu aflita por falta de um cardiologista pediátrico na unidade de saúde. Após nova insistência da mãe, a médica chegou do consultório particular. Porém, Caleb naõ resistiu e morreu à noite.
A advogada da mãe do bebê lamentou o fato de uma das médicas, a de 33 anos, ser a profissional que acompanhava Caleb rotineiramente e não ter ido ao hospital.
”Ela ficou no consultório e deixou a criança à mingua na Santa Casa”. E ainda processa a mãe? Isso é falta de humanidade”, lamentou a defesa. A advogada de Gabrielle diz ter todas as provas que houve morte por omissão e descaso.
”nosso argumento é uma documentação, o prontuário médico que elas foram omissas, negligentes, porque falar a verdade não é calúnia e difamação, tá sendo apurado, morte apurar na polícia justamente por causa da negligência e omissão”, concluiu a defensora de Montalvão.
O espaço está aberto para manifestação dos advogados das médicas.