Denunciada por tortura, clínica é impedida de receber dependentes químicos

Após denúncia, a Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul conseguiu na Justiça liminar que proíbe estabelecimento para tratamento de dependentes químicos, localizado no Bairro Chácara dos Poderes, em Campo Grande, de receber novos pacientes até que comprove que está adequada à lei para operar.

No local, foram constatadas situações desumanas relacionadas à tortura, cárcere privado, abuso na manipulação de medicamentos, instalações insalubres e total ausência de prescrições médicas adequadas, conforme divulgou a Defensoria. Os acolhidos eram de várias cidades do Estado; além de Campo Grande, havia pessoas de Sidrolândia, Amambai, Aral Moreira, Juti, Fátima do Sul, Jardim e Naviraí.

“Segundo informações do proprietário, a capacidade de lotação era de 60 vagas, no entanto, no dia da vistoria técnica, havia no local um quantitativo de 65 homens acolhidos, dos quais cinco atuariam também como coordenadores do local. A idade dos acolhidos era entre 20 e 75 anos”, pontuou Eni Maria Sezerino Diniz, coordenadora do NAS (Núcleo de Atenção à Saúde).

Era informado que o local contava com aparato médico e psicológico para o tratamento, e que uma equipe devidamente habilitada iria até à residência buscar o paciente para levá-lo involuntariamente para a entidade.

Porém, conforme a apuração, “a parte era levada involuntariamente de sua residência sem que tivesse passado por qualquer tipo de avaliação médica previamente, e transportado em uma ambulância por pessoas que mais tarde soube-se que seriam outros pacientes acolhidos que estavam há mais tempo na entidade”, detalha a coordenadora.

“A primeira observação do local foi a existência de cadeados nos portões, concertina nos muros e presença ostensiva de pessoas com rádio comunicadores, tudo para evitar a fuga do local. Os acolhidos não tinham livre trânsito e nem permissão para saída e também não tinham livre acesso aos familiares”.

A defensora pública Eni Maria Sezerino Diniz durante averiguação de medicamentos disponibilizados aos internos. (Foto: Reprodução/Defensoria Pública)

Durante as entrevistas, foi possível ainda identificar violações emocionais e prática de tortura psíquica visando evitar fugas e o enquadramento e obediência restrita às normas da instituição, ainda segundo a Defensoria.

“Foram identificados idosos com problemas de alcoolismo em situação completamente degradante e sem o atendimento adequado. Ainda havia indícios de supermedicação para tornar letárgicos os acolhidos considerados difíceis ou problemáticos, e limitação e proibição de contatos com familiares. Um dos acolhidos estava dormindo e, por mais que se tentasse, não foi possível acordá-lo”, detalhou Eni.

Foi observado, ainda, que a entidade firmava contrato com os familiares dos acolhidos, fazendo-se uma espécie de contrato para internação involuntária, porém sem qualquer avaliação médica prévia. No contrato, era prevista, ainda, imposição de multa aos familiares, caso o paciente evadisse ou desistisse do tratamento.

Fonte: Angélica Brizola com informações de Campo Grande News

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